Em todas as nações há um desporto nacional que arrebata corações. Sem esgotar exemplos: rugby na Nova Zelândia, cricket na Índia, basebol nos Estados Unidos. Nos países ocidentais o futebol é o desporto rei e quase só conta com a concorrência dos seus derivados. É o que se passa em Portugal onde haverá mais jogadores de matraquilhos do que atletas federados.
Nada bate uma partida de matrecos. A escolha das equipas, as fintas incríveis, a mini, o estrondo dos remates, a gritaria dos golos. Uma feira de emoções, em ambiente de amizade competitiva, em que tudo o que é preciso é bola para a frente e fé no criador. Talvez seja o desporto mais barato a fazer portugueses felizes.
Não existem grandes estudos sobre o fenómeno, mas se o compararmos a uma empresa há boas lições que podemos extrair. A metáfora até pode ser arriscada, tanto mais que o jogo envolve bonecos que ganham a vida agarrados a um varão, com as mãos nos bolsos e, se bem repararem, com cara de poucos amigos.
Entremos pelo ângulo comercial. Nas empresas há por vezes um sistema de castas que define papeis funcionais. Quem vende é quem marca golos. Quem está lá à frente a chutar à baliza. No meio campo estão os maestros da equipa que lá lhes vão passando uma bolas. Mais atrás a linha defensiva, mais preocupada em não sofrer golos do que em construir jogo. E no último reduto?
Na linha da baliza está com um boneco com a função de guarda-redes. Mesmo sem usar as mãos tira partido do corpo para evitar o sofrimento da derrota. Se falasse diria que até tem uma vida sossegada se os pontas de lança continuam a faturar. E até por vezes marca golos comerciais usando a sorte da roleta, que como bem sabemos é uma técnica de casino.
O pior é quando toda a gente pensa que a faturação é da exclusiva responsabilidade do trio da frente. Quando todos cá atrás e até no miolo do terreno não contribuem para abrir os caminhos da baliza, o mesmo é dizer da conquista de novos clientes. Será até a razão porque que vemos, por esse país fora, mais gente disponível para jogar à defesa do que na zona de ataque.
Se houvesse estatísticas de matrecos decerto demonstrariam que as melhores equipas são as que conseguem construir, com os seus bonecos, máquinas eficazes. Como agora se diz em futebolês: blocos entrosados, com qualidade de jogo, mobilidade entre linhas, capacidade de penetração e critério na definição. Em linguagem comercial: equipas com capacidade de cross-selling.
Nas empresas onde tantas vezes predomina a tática da meia bola e força, talvez a instalação de uma mesa de matraquilhos possa contribuir para mais do que a felicidade da tripulação. Talvez ajude a perceber a importância de todos na construção de resultados positivos. Talvez até traga ao de cima o potencial ofensivo das nossas equipas quando se trata de abrir oportunidades de negócio. Mas pelo menos pode pôr toda a gente a pensar nisto à volta da mesma mesa.
Por Rui Fiolhais | Administrador e Board Member no Wellow™ Group