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Algo de errado não está certo

Algo de errado não está certo!

Enquanto abanava um saleiro o chefe de sala dava razão ao cliente. O frasco de sal entupido não passava de uma maraca inútil, que quanto mais se abanava menos cumpria a sua função de dar sabor ao mundo. Foi então que concluiu filosófico: “algo de errado não está certo”. Na saída do restaurante ficou a frase a bailar na minha cabeça: onde é que já vi isto?

Foi na nossa casa. Porque todas organizações têm saleiros entupidos. As receitas que teimam em não produzir resultados, mas que continuam a ser servidas à mesa para temperar processos desenxabidos. E porque razão insistimos tanto em receitas estafadas?

Porque somos teimosos. Temos uma inclinação trágica, típica dos povos meridionais, de jogar pelo seguro. Para velhos problemas saltam logo da algibeira as soluções habituais. Porque foi assim que fomos ensinados. A respeitar os mais velhos. A manter as tradições. A arriscar pouco quando em risco fica a nossa segurança. E onde nos leva essa teima?

A lado algum. Ficamos no mesmo sítio a marcar passo até na parada assentar a poeira do esquecimento. Exemplo: quando queremos resolver um problema passamos a bola ao companheiro. Por correio eletrónico pois claro. Com conhecimento a terceiros para termos testemunhas no julgamento. Então o que acontece?

O colega não responde. As razões são diretamente proporcionais à complexidade do problema, mas são sempre mais compridas do que um desfile na avenida da Liberdade. À cabeça do cortejo está sempre a falta de tempo. Logo seguido da carga de trabalho, das prioridades, dos inesperados, da procrastinação defensiva. E como fica a mensagem?

Em águas de bacalhau. A boiar no imenso lago da pasta dos recebidos, sem passagem nos assuntos a tratar e cada vez mais longe de descansar em paz na gaveta dos assuntos tratados. Nessa altura vamos buscar o saleiro da autoridade e com energia abanamos a mão que dá o murro na mesa. Resultado prático?

Dias de trabalho perdidos. As horas que se perdem a justificar a falta de resposta. As reuniões para acertar agulhas desavindas. As pedras no sapato que desaceleram o passo e a motivação. Os clientes que vão andando. Os problemas que continuam por resolver. Mas terá de ser sempre assim?

Só se assim quisermos. Uma cultura organizacional saudável não pode dispensar o sal da humildade. Nem manter entupido o saleiro da confiança. Tem fazer o “unpack” do problema, abrindo a mala e revistando, peça a peça, as razões que determinam essa cultura de impasse. Não é fácil fazer coisas difíceis, mas com humildade é possível pôr essa roupa toda a secar na corda do reconhecimento. E se não conseguirmos?

Pedimos ajuda. Há quem consiga divisar por fora os nós que não conseguimos desatar por dentro. Não podemos é ficar à espera que as coisas mudem a ver o tempo a passar. Se o saleiro continua tapado, depois de tanto abanar, é porque no limite tem de ser substituído por uma peça que funcione. Porque se “algo de errado não está certo” não vale a pena teimar no mesmo erro para chegar a uma boa solução.

Porque se “algo de errado não está certo” não vale a pena teimar no mesmo erro para chegar a uma boa solução.

Por Rui Fiolhais | Administrador e Board Member no Wellow™ Group