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Migração e Trabalho: dois lados da mesma moeda!

Portugal: um país desejado

Portugal é um país popular aos olhos estrangeiros – clima ameno, cultura interessante, pessoas que praticam a arte de bem receber, estilo de vida seguro e uma elevada qualidade de vida. Estes são os principais determinantes de escolha de Portugal como país para viver que atraem milhares de migrantes em busca de uma melhor oportunidade.

Dados do SEF referentes a 2022 mostram que Portugal registou mais de 750 mil estrangeiros/as com residência, um aumento verificado pelo sétimo ano consecutivo e que representa mais 8,3% de registos face a 2021. De acordo com o SEF, as principais comunidades estrangeiras residentes em Portugal são de cidadãos do Brasil (233.138), do Reino Unido (36.639), de Cabo Verde (35.744), da Índia (34.232), de Itália (33.707), de Angola (30.417), de França (27.614), Ucrânia (26.898), Roménia (23.967) e Nepal (23.441). Fruto do contexto sociopolítico, Portugal tem ainda recebido refugiados da Síria, Afeganistão, Venezuela e, mais recentemente, Ucrânia.

A realidade do Grupo Wellow™ acompanha as tendências registadas: temos 46 nacionalidades presentes no nosso ecossistema e o top 5 de nacionalidades estrangeiras dos/as nossos/as trabalhadores/as é composto por Brasil, Guiné, Cabo Verde, Angola e India.

Imigração e trabalho: sem o preconceito que “rouba trabalho”

Os/As imigrantes assumem um papel fundamental na melhoria da eficiência dos mercados de trabalho. Sem a força de trabalho imigrante, alguns setores económicos teriam sérias dificuldades em sobreviver , pois há ocupações que os/as autóctones evitam (e.g. trabalhos mais sujos, mais exigentes, perigosos, mal pagos, instáveis e precários) e nos quais os/as trabalhadores/as imigrantes estão amplamente representados/as; embora estes factos sejam evidenciados a partir de dados oficiais disponíveis, é comum não serem totalmente percecionados pela generalidade da população residente nos países que acolhem imigrantes.

Felizmente, este não é o caso de Portugal. Está entre os países europeus com as perceções mais favoráveis quanto ao contributo dos/as imigrantes para a economia do país (6.3 em 10), reconhecendo o impacto positivo na situação demográfica envelhecida (saldo natural negativo) e da dependência que algumas atividades económicas do mercado de trabalho português têm da força laboral imigrante. No entanto, apesar de Portugal assumir a importância da migração para o mercado de trabalho, não se resolve a segmentação visível da força laboral – os/as trabalhadores/as estrangeiros/as estão sobre representados/as em algumas atividades e setores económicos (em particular nos grupos profissionais menos qualificados, mais precários, mais expostos a instabilidade na relação laboral, com menores remunerações, e de maior incidência de sinistralidade laboral). Por outro lado, os dados confirmam que os/as imigrantes são ainda importantes geradores de emprego, mostrando-se mais empreendedores/as que os nacionais (pois apresentam valores relativos de empregadores por total de ativos superiores aos/às portugueses/as ).

O Papel dos Empregadores na Migração Digna

Reconhecido o papel importante da migração na sustentabilidade da economia portuguesa, importa refletir sobre o papel dos empregadores na captação, desenvolvimento e fidelização desta força de trabalho.

Procedimentos burocráticos e legais
Os processos existentes de emissão de vistos de residência e de autorizações para trabalhar em Portugal têm sofrido alterações que visam a sua melhoria, mas sempre com reveses e obstáculos que tornam estes procedimentos demorados, complexos, inacessíveis e pouco ágeis. Quando pensamos que as pessoas que os realizam estão em situação de precariedade, é óbvio o sucesso de tantas organizações menos escrupulosas que sugerem facilidade e simplicidade a estes públicos originando casos de escravatura moderna, como os amplamente difundidos nos meios de comunicação neste último ano.
Cabe ao potencial empregador ser agente de informação e de facilitar o acesso às entidades mais apropriadas para que esta barreira seja ultrapassada – a Wellow™ é membro integrante de redes locais como a Oeiras Solidária e parceira do ACM – Alto Comissariado para as Migrações e disponibiliza a todos/as os/as candidatos/as informação atualizada sobre os seus direitos e deveres enquanto trabalhadores em Portugal.

Barreira linguística
Apesar da facilidade em falar outros idiomas que caracteriza os/as portugueses/as, não restam dúvidas que a proficiência da língua portuguesa é uma mais-valia para qualquer pessoa que pretenda viver e trabalhar neste país. São várias as opções de cursos de Português para Estrangeiros com diferentes níveis de investimento necessários.
Ainda assim, o potencial empregador pode contribuir através da retirada de barreiras na sua comunicação – por exemplo, com a tradução de sites, peças institucionais e outros canais para outros idiomas para além do português ou disponibilizando canais alternativos que estejam capacitados para um atendimento noutro idioma. Importa ainda reforçar a importância de disponibilizar noutros idiomas informação relevante como a que consta num contrato de trabalho (ainda que este seja assinado na sua versão portuguesa) ou mesmo sobre regras de conduta, direitos e deveres ou procedimentos de trabalho. A Wellow™ vem a implementar várias melhorias no que respeita aos seus canais de comunicação, nomeadamente através da tradução de todos os seus sites para o idioma inglês e procurando organizar esforços de tradução de material interno como Códigos de Boas Práticas de Conduta Ética entre outros.

Aspetos logísticos do quotidiano
Uma das grandes diferenças inerentes a projetos de recrutamento para migrantes é a preocupação que extrapola as condicionantes do emprego. Se, no caso de recrutamento nativo, a interação com o/a candidato/a assenta maioritariamente nas suas qualificações, competências e experiências anteriores relevantes, no recrutamento de migrantes, questões como alimentação, alojamento, transporte e até rede local de suporte são igualmente relevantes e preditores do sucesso da integração laboral destas pessoas.
Na realidade da Wellow™, procuramos criar processos que facilitem a integração no mercado de trabalho destas populações como é exemplo o nosso alojamento em S. Bartolomeu de Messines com capacidade para cerca de 80 pessoas e que apresenta condições dignas de estadia para este reforço fundamental à capacidade de resposta da Talenter™ no período critico de trabalho no Algarve.

Certezas há de que o papel do empregador vai para lá dos básicos de contratação e cumprimento da lei quando falamos de migração e trabalho. Requer empatia, recursos e inteligência cultural para compreender os contextos do migrante e desenvolver as melhores práticas que permitam a sua real integração numa equipa, numa organização, numa sociedade.

Por Rita Duarte | Chief People’s Officer no Wellow™ Group